quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Por uma gramática simples

Olá pessoal! Mais uma vez agradeço pela visita no meu blog e agradeço também a todos os que me apóiam! Estou fazendo este post para avisar que ficou pronto o blog sobre gramática. Ele se chama "Gramaticando" e o URL é http//:www.gramaticasimples.blogspot.com

O intuito dele é solucionar dúvidas de gramática da norma padrão do português e discorrer sobre algumas curiosidades acerca da origem das palavras de nossa tão bela língua. Por enquanto consta no blog apenas um post sobre Fonética e Fonologia e um outro sobre as mudanças que vão ocorrer com a reforma ortográfica. Espero que esse novo blog venha a ajudar muitos de vocês!

O maluco sadio

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Fabiano

Calçou as chinelas. Pegou as chaves de casa, saiu pela porta e ganhou a rua. O choro das crianças atrás de si, a gritaria da mulher ainda em seus ouvidos. Saíra para comprar leite. Leite e pão. Era esse o motivo do choro e da gritaria. Leite e pão. A vida não andava bem, tempos difíceis, tempos difíceis... a comida já não vinha sempre e quando vinha era pouca. As crianças choravam, a mulher gritava, brava. “Seu vagabundo! Vai trabalhar, vai arranjar leite pras crianças!”. Trabalhar... como se houvesse trabalho.
Então, seguia em frente. Atravessou a rua, dobrou uma esquina, entrou em uma viela, pisou em um buraco fundo cheio d'água... ficou bravo e continuou andando. Que mais faria? Andar, andar, era tudo o que sabia fazer. Era preciso seguir em frente, mesmo sujo de água de rua, mesmo desempregado, pobre, miserável... era preciso seguir em frente. E seguia, como um boi, trôpego retirante.
Um carro! Que susto, precisava parar de pensar e prestar atenção no caminho. Parar de pensar. Afinal, pra que pensar? Ele pensou e planejou sua vida, lutou por ela, correu atras do que lhe pertencia, e o que conseguiu? Um barraco, umas migalhas de pão que não alimentam corvos, muito menos sua esposa e filhos. Ele pensou... e foi esse o resultado. Não tinha trabalhado e se empenhado tanto para acabar miserável. O que será que deu errado no meio do caminho? Não achou resposta para essa pergunta. Talvez nada tivesse dado errado. Talvez... mas talvez não é certo, e o que não é certo é dor. Talvez não... não era dor, não era nada.
Finalmente chegou à padaria. Tirou o cobre do bolso, pediu os pães e o leite. “Obrigado, boa tarde.”. Por que as pessoas dizem essas coisas? Obrigado... obrigado por que? Por nada. Apenas por formalidade, nada mais. Um obrigado seco, morto, cinza. Aliás, tudo na vida parecia formalidade. Tudo cinza. E parecia que ia chover. Saiu da padaria e se apressou para voltar para casa. Um pingo. Dois pingos. E aí a coisa desandou. Como se já não bastasse o estado de espírito em que se encontrava, agora tomava chuva e os pãezinhos, quentinhos, se ensopavam. A esposa não ia ficar contente. Parece que só coisa ruim acontece com pobre. É, assim é a vida. Passa por cima da gente. Esmaga, destrói, queima... mas não mata. Deixa ali, para os urubus. É assim com todo mundo. Todos estamos entregues aos urubus.
Chegou na rua de casa. Viu o barraco, pensou se queria mesmo entrar. Coragem homem! Abriu a porta e entrou.

domingo, 2 de novembro de 2008

Rosa dos ventos

Mas...

O preto se fez branco, mas um branco morto, que se tornou, mais uma vez, em cinza. E veio o vento e levou o cinza, e o trouxe de volta e o levou novamente.
E assim voltamos ao ponto de partida. Seguimos para o Leste, para o Oeste, mudamos de rumo para o Norte e para o Sul e cá estamos novamente.
Um volta em círculos, como toda discussão e todo pensamento e toda filosofia. Sem parágrafo, ou vírgula, ou ponto final. Muito menos reticências. Acaba assim, sem mais nem menos, sem um nem outro, sem preto, branco ou cinza, com o vento somente.
E essa rosa dos ventos que seguimos, jogo-a fora. E quando ela é lançada ao ar pelas minhas mãos, vejo que a rosa dos ventos não é rosa, é vento. E então ela voa e vai e some, como todo vento, como toda filosofia, como todo pensamento, como toda discussão. Como o homem, que é vento, que voa, que cai, que se levanta, que vai, que volta, que morre e que, por fim, some. E assim acaba, com o vento. Somente o vento.
Então, adeus leitor, que agora vou como devo ir: Voando.

Rosa dos ventos

É, não existe mais isso entre nós

E voaram. Voaram os dois namorados e fiquei eu lá, com as palavras sinceras do Pombo ecoando em meus ouvidos e a confissão da Pomba voltando aos meus olhos. Exemplo de ternura, infelizmente, perdido há muito tempo pela humanidade...
O fato é que aquele ponto colorido me fez lembrar do cinza que nos envolve, e então aquela cor se desfez, e não sobrou nem o cinza. Somente o preto.

Rosa dos ventos

Dois pombinhos, um Ipê e o Vento

- Bela tarde, não?
- Sim, uma tarde muito bonita.
- Sim, sim... a propósito, sou Pombo. Posso ter a graça de saber seu nome?
- Claro, sou Pomba. Prazer em conhecê-lo.
- Igualmente.
- E que negócios o trazem a tão belo jardim, sr. Pombo?
- Vim trazer-lhe algo que a senhorita esqueceu no Ipê, quando estavas lá.
- Ora! Não me lembro de ter visto o senhor quando eu estava lá. Pois bem, obrigado. O que foi que eu esqueci lá?
- Algo de mais valor para mim do que para ti, creio.
- Não compreendo....
- Deixe-me explicar. Estava eu lá no Ipê, tranqüilo, vendo o rio correr e conversando com as folhas, quando veio o Vento e disse no meu ouvido: “olha, pombo, aquela flor que brota daquele galho.”. Olhei e vi. Que bela flor. Mais bela que todas as belas flores daquele belo Ipê. Fez-me cativo, e voou. E esqueceu ali o meu coração, já roubado de mim. Vim devolvê-lo.
- ....
- Não o queres?
- Não, não é isso...
- Ah! Já esperava por isso... não se preocupe em inventar alguma desculpa, voarei para longe, mas saiba que ele é seu, e continuará sendo. Mas não se preocupe, não precisa cuidar dele... não precisa.
- Não, não Pombo. É que eu não esperava... na verdade eu te vi sim no Ipê. Estava eu tranqüila em meu galho, conversando com as flores, e veio o vento e me disse: “Pomba, olha aquele ramo verdejante, mais verdejante entre todos deste Ipê”. E te vi. E tive esperança de que olhasses para mim também. Mas não tive meus olhares correspondidos... então voei. E agora veio você... eu não esperava.
- Quer dizer então...?
- Sim, venha Pombo. Vamos, vamos. É teu meu coração, e meu o teu.

Rosa dos ventos

Enfim, alguma cor

Enfim, cansei das janelas e, na dúvida, fui conferir mesmo se era tudo cinzento ou se havia alguma cor do outro lado do vidro. Frustrei-me. Tudo cinza. Sentei-me em um banco, com um quê de desapontamento, mas que não chegava a tanto. Era mais como uma indiferença que doía. Uma dor cinza (ora, quanto cinza!).
Olhando aquele retrato em preto e branco a minha frente, reparei que surgia um ponto colorido nele. Olhei melhor. Dois pombinhos conversavam tranquilamente, me ignorando. Atentei à conversa deles.

Rosa dos ventos

Janelas cinzentas

Muito pode ser visto através das janelas cinzentas. O problema desse tipo de janela é que o que se vê através dela se torna também cinzento. As coisas coloridas se tornam cinzentas através dessas janelas da melancolia. Mas o que há de colorido ainda no mundo para ser visto? Pouco. E esse pouco o homem faz questão de pintar de cinza. Ora! Poupemos o trabalho dos homens então. Pintemos nossas janelas de cinza.